terça-feira, 3 de março de 2009

CACHOEIRA SEM CONFETE, SEM SERPENTINA...

Alex Bohrer

A quase destruição do Cruzeiro de Pedra da Praça da Matriz foi somente um indício do que está acontecendo com Cachoeira do Campo. O carnaval de 2009 foi uma triste festa. Ou melhor: “quase” foi uma triste festa, senão fosse a obstinação dos nossos heróicos blocos carnavalescos, herdeiros de uma época sem abadás e grande shows. Cachoeira é terra da música, das bandas mais tradicionais do estado, lugar de tantos carnavais memoráveis, dos antigos entrudos e bailes caricatos. Escutar rock, forró, funk e sertanejo em pleno carnaval é lamentável. Não tenho nada contra essas manifestações musicais, absolutamente nada contra! Se o poder público quer incentivar grupos locais, excelente! Merece palmas e palmas, pois aqui há lugar para todos os ritmos. Todavia, isto que passou se chama CARNAVAL. Quem se aventurou a passar algumas horas na Praça deve ter estranhado: onde estavam as marchinhas? Carnaval em Minas sem marchinhas? Santa paciência... E se alguém argumentar: “o que fizemos foi adequar essa festa ao gosto moderno, pois nada pode ficar engessado na História” - como historiador, posso até tentar entender. Mas, e os nossos idosos? Não podem mais ver e pular esta folia? Mais um argumento: Enquanto algumas cidades históricas mineiras coíbem músicas que não condizem com a Festa de Momo, em Cachoeira elas passam a ser as atrações principais e a marchinhas (pasmem!), exceções na programação. Me pergunto, por quê? Cachoeira não é Minas? Ou não é histórica?

Ruas enfeitadas? Confetes? Serpentinas? Nada. Somente um palco negro marcava o luto da festa. Teve gente que ousou falar neste palco o que estava entalado em muitas gargantas: “não somos a sobra do carnaval de Ouro Preto”, exigimos respeito!

Mas, de quem foi a culpa deste carnaval sem confetes? Seria muita acomodação culpar somente o poder público. A culpa é também minha e sua, caro leitor. A culpa é da sociedade civil que não se organiza e organiza suas reivindicações. A culpa é de todos nós. Onde o poder público falha ou se omite, tem que entrar a sociedade civil organizada a argumentar, a cobrar conscientemente. Nada cai do céu de mão beijada: se queremos falar é preciso ensinar os outros a nos ouvir.

Há males que vêm para bem, velho e certeiro ditado. O Cruzeiro de Pedra e nosso carnaval são a ponta de um imenso iceberg de problemas que assolam Cachoeira. Que sejam então alavanca para a criação de um grande movimento em prol do nosso distrito! Em breve, a AMIC difundirá um comunicado para uma reunião de associações e entidades. Queremos lançar um projeto abrangente e unificado, que aponte conscientemente nossos problemas e que sugira soluções. A união faz a força!

“Se o nosso carnaval fosse sempre assim, ninguém precisava sair de Cachoeira”, escutei o folião falar ao ver passar um animado bloco com os velhos e queridos bonecões. Então, querem uma solução? Invistam nas bandas locais (a de Cima e a de Baixo)! Tenho certeza que dariam o melhor de si e recolocariam Cachoeira (cheia de confete e serpentina) na rota do carnaval mineiro.

Nenhum comentário: